terça-feira, 8 de abril de 2014

Este País não é para velhos

               
Todos os dias somos confrontados com uma realidade triste: muitos velhinhos estão completamente sós ou foram abandonados em lares pelas famílias, e nem arranjam tempo para os visitar.
Para alguns filhos, os pais, quando chegam a velhos tornam-se um problema, um fardo pesado e difícil de carregar. As instituições, pelo menos essas, deviam investir na humanização dos espaços, o mais importante ainda, o do trato.
Nuno Costa, Lamego

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Portugal onde há cada vez mais de tudo

              
Há cada vez mais velhos abandonados nos hospitais. Há cada vez mais crianças abandonadas nos hospitais. Há cada vez mais animais abandonados nas ruas. Há cada vez mais meninos que vão para a escola sem terem tomado o pequeno-almoço.
Há cada vez mais pessoas a ter de entregar a casa ao banco por não conseguirem pagar a prestação. Há cada vez mais pessoas desempregadas. Há cada vez mais pessoas a alimentarem-se de papas. Há cada vez mais pessoas a levar um tupperware com comida para o emprego. Há cada vez mais restaurantes a fechar as portas. Há cada vez mais pessoas a fumar tabaco de enrolar. Há cada vez mais pessoas a pedir esmola nas ruas. Há cada vez mais pessoas a recorrerem às Misericórdias e ao Banco Alimentar contra a Fome. Há cada vez mais pessoas a não tratarem dos dentes.
Há cada vez mais pessoas a não irem ao médico. Há cada vez mais casos de tosse convulsa. Há cada vez mais casos de tuberculose. Há cada vez mais casos de dengue na Madeira. Há cada vez mais pessoas a deixarem de comprar jornais e revistas. Há cada vez mais pessoas a andar de transportes públicos.
Há cada vez mais pessoas a emigrar.
Nuno Costa, Lamego

sábado, 5 de abril de 2014

A troika e os sem-vergonha

              
Vai ser preciso escolher mais tempo ou mais austeridade, quem vai escolher não somos nós nem o Governo, mas sim a própria troika. A escolha resumem-na assim: se a troika for benevolente e bem agradecida ou escolherá mais tempo, se for cruel escolherá mais austeridade.
Este bombardeamento é devastador, é deprimente, é mesmo vergonhoso!
O leque de escolha não reduz a mais tempo ou mais austeridade e quem tem de fazer opções não é a troika, é Portugal!
Num País independente e soberana, a governação não é externa. São as suas instituições e o seu povo que determinam os rumos e as opções.
Ora, as políticas seguidas não disponibilizam dinheiro para investir e assentam no aumento do desemprego.
A austeridade empobrece e quanto mais se empobrece menos possível de pagar as dívidas. Para pagar as dívidas é preciso, no mínimo, que os portugueses tenham um trabalho produtivo e um salário digno e nós estamos a ficar desempregados, com piores empregos.
Não devemos e não aceitamos continuar a empobrecer mais. É preciso suspender o serviço da dívida, libertando recursos para a criação de emprego e riqueza. Vamos resistir e mobilizar forças que conduzam a um entendimento novo com os credores quanto aos termos da reestruturação da dívida. São escolhas de ricos e desafios, mas não haverá saídas sem os correr.
Sacuda-se a teoria de quem está fraco. Os portugueses, que alcançaram grandes vitórias ao longo da história e fizeram revoluções, serão capazes de, optar pelas escolhas difíceis.
Mais austeridade não nos fará sair da crise, não é alternativa!
Nuno Costa, Lamego

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O deserto

        
Parece que a PSP pretendeu retirar as pedras das calçadas que rodeou o Parlamento.
Para evitar novas cenas de violência. Acho bem: sem pedras, as próximas manifestações serão feitas com o arremesso de tartes. Mas talvez esta ambição da polícia esteja em sintonia com o delírio da política.
Quando a crise rebentou, houve por aí alguns alienados, para quem só havia duas saídas possíveis para o sarilho em curso: recuar na integração europeia; ou avançar com ela. A Europa preferiu ficar no meio da ponte, infligindo as doses de austeridade sobre as economias endividadas e moribundas. A zona euro está oficialmente em recessão, com o lento naufrágio da Espanha, Itália, Holanda - e, a prazo, da França e da Alemanha.
Sim, podendo remover as calçadas, sinais de trânsito, automóveis, edifícios e até cidades inteiras. Mas, no meio do deserto, ficaremos sempre nós. Pobres e sós.
Nuno Costa, Lamego

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os filhos dos outros

             
Naquele tempo, uma sardinha era dividida por uma família mas todos sobreviviam, honrados mas com fome. Miséria não faltava, como não faltavam crianças, muitas crianças. Tudo com sacrifício e pela Nação.
Quem pretende aumentar a família, incentivos que ajudem os casais a tomar a decisão-chave de pôr uma criança no mundo.
E que permitam dar-lhe, para lá do amor, as condições de vida a que todos têm direito. De preferência bem melhores do que as dos nossos avós. Afinal, também foi para isso que eles trabalharam ao longo dos anos.
Nuno Costa, Lamego

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A casa do silêncio

             
Há quem considere o silêncio um dom da natureza. A contemplação e a introspeção paralela com essa primazia. Há quem procure o silêncio e não o encontre, há quem vasculhe no fundo da alma um replique ruído. Manter-se em silêncio era um castigo em voga antigamente. Os castigos evoluíram e alguns são autênticas brincadeiras comparados com os castigos da troika. Quando não ouvimos barulho na casa do nosso vizinho durante vários dias ficamos preocupados.
Cavaco Silva a falar na língua inglesa. Gostamos de ouvir Cavaco Silva a falar na língua portuguesa.
Não é de poesia que os trabalhadores precisam. O presidente convém dar um ar da sua graça.
E gostam de ouvir falar, de preferência na língua portuguesa.
Nuno Costa, Lamego

terça-feira, 1 de abril de 2014

Há cada vez mais famílias sem dinheiro para comer

             
Há cada vez mais pessoas a recorrer a cantinas sociais para matar a fome.
As cantinas esperam uma avalanche de gente, as pessoas que procuram serão famílias com empregos precários, mal conseguem pagar as contas, e as famílias estão em situação recente de emprego, sem dinheiro para comer.
Cada comensal a mais é de apenas 50 cêntimos. Uma família de 5 pessoas comerá, no total, por euros 3,5 cêntimos.
Nas cantinas sociais, funcionam ao almoço e ao jantar, são confecionadas 65 refeições diárias.
Nuno Costa, Lamego