quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O ataque social

                               
A maior parte das pessoas em Portugal está zangada. Os outros estão assustados e tristes. Neste período, mais do que nunca, é necessário espírito lúcido, cabeça fria, imaginação serena. Tudo isto é incompatível com medo, tristeza e sobretudo raiva.
Razão da fúria é o suposto o ataque ao Estado social. Alegadamente os terríveis neoliberais querem usar a crise para desmantelar os direitos laborais, de saúde, protecção e outros benefícios. Autopromovidos defensores da justiça e solidariedade chegam a proclamar uma guerra santa contra a ameaça. Mas os seus argumentos são falsos, enganadores e perversos.
Todos os portugueses que pretendem um sistema de saúde, segurança social e apoios anexos. O que está em causa é, não matar o sistema, mas fazer-lhe uma dieta.
Num regime de emagrecimento parece sempre passar-se fome, mas por vezes é indispensável.
A única forma de salvar os sistemas de protecção é torná-los financeiramente sustentáveis, defendendo sobretudo os mais pobres e acautelando as receitas que permitem um funcionamento saudável. Porque aqueles que as fazem são precisamente os que criaram a actual situação insustentável. O presente desequilíbrio demonstra, antes de tudo, a enorme incompetência dos responsáveis e agentes que operaram o Estado social nas últimas décadas. Os responsáveis iam apresentando resultados excelentes, que ignoraram as leis básicas da artimética. Apôs décadas de somas desacertadas, acusam-se agora as reformas indispensáveis de matar o Estado social.
A começar pelo primeiro-ministro, que baseia no medo da suposta demolição do Estado social, até aos funcionários que querem manter mecanismos, trava-se uma luta de morte, não à volta dos direitos sociais, mas dos privilégios burocráticos.
A maior parte das pessoas em Portugal está mesmo zangada. Mas há quem esteja a aproveitar-se dessa zanga e da falta de lucidez que ela gera. Podemos até deduzir uma regra geral que vale a pena começar a usar: quando alguém fala de neoliberalismo, é bom proteger a carteira. A maioria dos que nos assustam com o supremo papão pretende apenas defender benesses, obrigando-nos a mais despesas.
Nuno Costa, em 23/11/2011

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