Perante a desgraça, todos somos postos à prova. Para a maior parte de nós, esta situação é mesmo um desafio da nossa vida. Muitos terão de responder sinceramente que foram parte de um problema, não de uma solução. Terão de dizer que protegeram os benesses, sabotaram as reformas, resistiram à mudança, incitaram ao ódio.
O pior da conjuntura, o verdadeiro mal está a criar no tecido social é a surpresa, a desilusão, a indignação.
Confiávamos no sistema que faliu e surgiu o oposto do prometido.
Muitos sofrem muito, o que mais ocupa os nossos protestos é o desalento, a queixa, a fúria. Este País deixou-nos outra vez ficar mal. Ouvimos muitas histórias degradantes de injustiças, mentiras, direitos violados, inocentes sofrendo, corruptos e burlões.
Perante a indignação é fácil esquecer os valores que sempre guiaram a nossa vida, dizíamos que guiavam em tempos mais serenos.
Perante o embate é possível subir ou descer. Podemos enfrentar ou criticar, inovar ou protestar, exigir, insultar, encarar as dificuldades. É agora que o nosso carácter, a fibra, as raízes, as convicções profundas mostram o seu valor. O embate é brutal e muitos cedem. É fácil desanimar, acusar, insultar, odiar, o problema fica na mesma.
O pior da crise é o desemprego, as falências, a pobreza, o desânimo.
O mais negativo é o peso financeiro, a recessão económica, o choque social, a desorientação política, a paralisia cultural, o bloqueio institucional. A situação justifica repulsa, angústia, desânimo, até mesmo o desespero ou a revolta. Não pode justificar o ódio, nada o justifica. O ódio nunca nasce das circunstâncias, mas da atitude face às circunstâncias.
Só o nosso carácter, a fibra, as raízes e as convicções profundas nos permitirão vencer o desafio desta geração.
Nuno Costa, Lamego