A TV organizou o evento com elementos que a tragédia cristalizou: oráculos, bode expiatório, coro das famílias enlutadas e testemunhas emocionadas, transferência do centro simbólico do País para uma curva ferroviária em lugar distante, reaparecimento do sentimento da comunidade no lugar da sociedade, imagens de morte e destruição, heróis salvadores.
A TV configurou o evento, através do direto sem fim, juntou à espetacularidade hollywoodesca do descarrilamento e dos mortos e feridos a linguagem embargada do jornalismo. Sempre singulares, sempre eventos como este irrompem sob o signo intemporal da tragédia.
No Rio, as Jornadas Mundiais da Juventude católica renovaram a junção da dimensão religiosa do evento à sua configuração espetacular e mediático global.
O espetáculo dos eventos, o mega-ritual religioso-mediático, multidões festivas, contactos emocionais nas ruas, sorrisos abertos e a humildade pública, genuína, o que equivale é adaptação pelos famosos para obterem o favor do povo, quer dizer, das audiências.
Na monarquia hereditária, o nascimento dum príncipe é um evento importante. Por ser o mais antigo, é um regime biopolítico: o nascimento é um ato político, apesar de mascarado pelo espetáculo e pela elevação dos fait-divers aos êxtases da inteligente, a monarquia Britânica adapta-se à voragem mediático: organiza o circo, colado. Não à informação do nascimento revelante para encher horas e dias, os jornalistas fizeram na mesma a festa: o evento era tão importante que estavam a filmar a porta num hospital jornalistas de mais de 150 países.
Nuno Costa, Lamego
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