Visto de fora, a nossa crise é uma crise de direitos garantidos e de benefícios corporativos.
Visto de dentro, a crise tem tantas explicações quanto às posições ideológicas. Da esquerda para a direita, a crise é interna à lógica do capitalismo, um efeito colateral da crise financeira internacional. Visto de fora cá dentro, o resultado não podia ser outro.
Visto de fora, a última década foi uma década perdida. Crescimento económico é nulo, a produtividade a crescer menos do que os salários, os resultados escolares são aterradores, um aparelho do Estado é tomado por clientelas poderosas, o constante adiar a resolução dos problemas à vista de todos. Visto de dentro, foi uma década de expansão da classe média do Estado, do crédito barato e sem limites, da construção desenfreada, das Scuts sem tino. Visto de fora cá dentro, o reverso da medalha era claro como água. O essencial, e o mais difícil, ficou por fazer: integrar a nova geração de cientistas nas universidades, em vez de os subsidiar com bolsas em estruturas paralelas. Da mesmo forma, o Estado social tinha filhos e enteados: os primeiros cada vez mais grisalhos e os segundos cada vez mais jovens e precários. As desigualdades, económicas mas também de poder e influência, mantiveram-se, intocadas.
Visto de fora, o nosso futuro é sombrio.
Como reindustrializar um País que nunca foi industrializado? Como pagar uma dívida de mais de (120%) do PIB com as taxas de crescimento anémicas.
Visto de dentro, predomina a incapacidade de reconhecer os erros passados e o taticismo das sondagens, uma incapacidade apoiada sobre os sectores da nossa sociedade que fazem de conta não perceber quanto mais se puxa o lençol, mais os pés ficam de sobra para tentar provar os prognósticos sombrios que estão errados e as inércias à mudança são injustas.
Nuno Costa, Lamego