segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O que os políticos têm a aprender nas feiras

                             
Paulo Portas é o Paulinho das Feiras. E fez de tal forma história que acabou copiado por todos os outros partidos nessa presença constante nos mercados. Não há diferença entre uma peixeira a beijar o rosto esquálido de Francisco Louçã ou um vendedor cigano de roupa a desafiar os modos suaves de Pedro Passos Coelho.
Apesar da megapresença dos líderes nas feiras, elas ainda são muito mal aproveitadas, com pouca imaginação. Se o Paulo Portas, ou até Francisco Louçã, para além dos beijos e abraços, a conversar com qualquer um dos vendedores ambulantes com que se cruzam, teriam garantidos vários soundbytes e muitas lições de política e economia.
Para já, em qualquer um desses vendedores há um empreendedor - fígura mítica de que Portugal tanto precisa. Mesmo descontando a tradição dos que são ciganos e seguem à toa, há muito para aprender com os vendedores de rua. Vender, por conta própria, implica várias decisões económicas diárias. Quando comprar para não ficar com material em casa? Tudo decisões que, nas grandes empresas, são tomadas com o respaldo de vários estudos de mercado. E que um vendedor resolve com um golpe de cintura e muito intuição.
Será talvez um dos sintomas da doença que corrói a economia portuguesa, o facto de há muito as nossas ruas terem deixado de ser disputadas por vendedores - nem nos semáforos, nem nos locais de passagem, nem nos bairros mais populosos.
Além das lições de micro e macroeconomia, os políticos tinham ainda muito a aprender sobre teoria política com os vendedores.
Esse é o seu local de vida e trabalho, o seu mercado, o ambiente económico e político que ele precisa de controlar para ter comida para pôr na mesa para os filhos.
Por que é que o PSD não explode nas sondagens? - o vendedor de rua explica. Por que é que Sócrates ainda consegue reunir tanto apoio? - o vendedor tem uma ideia. O que é que o Bloco devia fazer para aniquilar o PCP? - perguntem ao vendedor. Porque a resposta à pergunta sobre como Paulo Portas, o líder do partido mais elitista, se tornou no mais popular - a essa já o vendedor de rua respondeu.
Nuno Costa, em 02/01/2012

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