quarta-feira, 3 de abril de 2013

Este país não é de graça

                 
É um dos grandes mistérios da portugalidade contemporânea.
Porque será que este país, tão pobre e tão desigual, tem hábitos de rico, muito mais do que os países mais ricos do que o nosso?
Há milhares e milhares de pessoas, provavelmente as mais pobres, as mais velhas e as menos informadas que ficaram ou vão ficar sem a única coisa que tinham à borla nas suas vidas.
Todas estas pessoas, que estão entre as mais atingidas pela crise, desembolsarão cerca de 100 euros para continuar a desfrutar daquilo que sempre puderam desfrutar sem pagar um centavo.
E o que é chocante é esse entendimento ter sido feito às custas dos espectadores mais desprotegidos, do ponto de vista cultural e do ponto de vista económico. Aqueles para quem tem televisão são 4 canais e mais nada, coisa que o utilizador urbano, que faz zapping entre os duzentos e tal canais do cabo, já não sabem o que é. Foram obrigados as pessoas a pagarem para terem o que já tinham. Em muitos casos, nas zonas onde a TDT não chega, estas terão de comprar aparelhos para poderem ver a televisão por satélite. Ao todo, já pagaram mais de 131 milhões de euros.
Muito pouco se olharmos para Espanha, onde a TDT é gratuita e oferece 27 canais aos espectadores. Em Portugal, nenhuma estação quis trocar a renda fixa que recebe dos operadores do cabo e transferir qualquer um dos seus canais para o digital.
Esta assim explicado porque é que num país pobre se faz vida de rico, mais do que nos países ricos. Corrigindo-me, assim se percebe porque é num país pobre o pobre tem de fazer vida de rico.
Este país não é para graças.
Nuno Costa, Lamego

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