quarta-feira, 17 de abril de 2013

O talento infinito que a droga venceu

              
                                                VÍTOR BAPTISTA
Sempre soube que seria a bola a salvá-lo da derrota social a que estava condenado numa família pobre. Por isso, o primeiro troço da vida de  Vítor Baptista foi um hino ao sacrifício, à vontade de ser alguém e cumprir o destino do grande futebolista. O para a glória foi sinuoso, orientado por certo conceito de felicidade mas também pelo desejo de vingança que o conduziu a exageros fatais. A meio da viagem já todos lhe tinham detetado os sinais de quem não via a fronteira entre aventura e drama; ostentação e tragedia; diversão e suicídio.
Era  ainda jogador de primeira plano quando começou a precisar de qualquer dinheiro não para viver mas para se matar, prova de que, na desgraça, o seu talento foi explorado sem dignidade até à última gota.
Não era e nunca foi, embora tenha andado perto: poucos avançados concentraram tantas qualidades técnicas, físicas e táticas. Corajoso, habilidoso, potente, rápido de pernas e cabeça, versátil, imaginativo e bem relacionado com o golo, Vítor Baptista foi um ponta-de-lança inteiro.
Dele se poderá dizer que podia ter chegado ainda mais longe. Foi um espécime único, o de um talento infinito que a droga venceu.
Foi canalizador, eletricista, merceeiro e carpinteiro, sempre acompanhado pela paixão da bola.
No Benfica esteve sempre um passo atrás das expectativas que criou.

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