Portugal hesita em tornar-se uma sociedade adulta ou mesmo, apenas, uma sociedade. Tendemos a comportar-nos como uma comunidade.
Os conceitos de comunidade e de sociedade como formas de vivermos juntos ajudam a entendermo-
nos e entendermos o que somos coletivamente e como nos vemos a nós mesmos.
Vivemos em efervescência, quer quiséssemos quer não, todos falando do mesmo, nada podendo dizer que ofendesse os sentimentos pátrios, com multidões nas ruas, comportámo-nos como uma comunidade, uma paróquia gigante: todos como irmãos, membros da mesma família, ligados pelo mesmo sangue imaginário e por sentimentos comuns, pela língua e o tema único do momento.
A vida da sociedade é diferente. Cada um para seu lado no trabalho, em casa. Argumenta-se com razões, não com emoções: une-nos a cidadania, a partilha do mesmo espaço através do Estado, empresas, sociedade civil. A sociedade é o grau elevado da organização humana complexa, mas é maçadora sobrevalorizamos a fibra emocional, metade do que somos.
A comunidade vê-se; e tende a unir. A sociedade tem sentimentos, isola-nos. As duas convivem em qualquer agregado humano, mas nós temos uma atávica para rejeitar a sociedade e querer viver em comunidade permanente.
Se a sociedade é maçadora, a comunidade permanente cansa e frustra: demasiadas emoções não nos salvam, desgastam-nos. Temos um telejornalismo tendencialmente da comunidade, cheio de emoção, sempre com as de que os factos nos ofendem, em torno dos mesmos temas e repetindo-os, como na aldeia o rumor sobre a vizinha que se deitou com o canalizador. Falta um telejornalismo, sem esquecer da comunidade, nos eleve a sociedade, promova reflexão, noticiando com objetividade e parcimónia. O telejornalismo deveria ir à frente do País. Um telejornalismo da comunidade é um País com enorme resistência a modernizar-se.
Nuno Costa, Lamego
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