Conhecem-se, agora em detalhe, os termos do ultimato que colocou aos portugueses, e que o país terá que cumprir se não quiser ver condenado à insolvência. Preparados para o pior, os portugueses respiraram fundo. O discurso do primeiro-ministro, iniciou uma nova forma de fazer política, começando por anunciar as privações que não terão de ser feitas, um pouco como o médico, forçado a amputar o braço do paciente, lhe começa por dizer que não terá de lhe cortar as duas pernas.
Na verdade, as medidas que serão impostas aos portugueses nos próximos anos implicarão sacrifícios muito sérios, como se temia, serão suportadas mais uma vez, e em grande parte, pela classe média do país, o que não deixará de ter, a prazo, pesadas consequências, e um grande impacto social, cultural e política.
Em primeiro lugar, o mecanismo de controlo trimestral impedirá as contas públicas, o que reduz o risco a que temos estado sujeitos. Depois, abrange muito mais áreas do que as previstas nessa proposta do Governo, nomeadamente ao nível da redução dos gastos do Estado, ao reduzir a prestação das empresas, terá um impacto equivalente a uma desvalorização.
Por outro lado, terá a vantagem de trazer quase 80 mil milhões de euros para a nossa economia a uma taxa de juro inferior, aquela a que o país se iria, de outra forma, sujeitar.
Curiosamente, o Governo português acabou por aceitar, em poucas semanas, tomar medidas que há muito vinham a ser preconizadas pelo PSD e pelo CDS. Não sei qual será a interpretação que os portugueses fazem de tudo o que se passou nos últimos dias.
Será que ainda alguém se lembra de ouvir Sócrates garantir que não governaria com o FMI? Creio que, apesar de todas as dúvidas que um tema tão complicado possa suscitar, já se percebeu que este pacote fosse igual. Ter-se-á percebido, que os políticos que andavam desavindos se entenderam em apenas três semanas, não apenas porque lhes acenaram com uma cenoura.
Nuno Costa, em 18/07/2011
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