segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A falta que o cascalho faz ao cunha

                                     
É perante o declínio acentuado da população de cumbas, que aumenta a necessidade do País investir em medidas de mitigação, que viabilizem retirar a espécie da zona de perigo de extinção nos rios portugueses. A extracção de inertes do Guadiana e Tejo é apontada como o maior obstáculo à sobrevivência deste peixe, que também se tem revelado bastante vulnerável à poluição das águas.
Sem cascalho ao longo dos rios, o cumba vê as horas desovar, durante a Primavera. Apesar de ser um amante das águas calmas, é capaz de enfrentar correntes severamente adversas na época de reprodução, subindo os rios em cardume, saltar mesmo por cima de rochas e atravessar zonas em que o nível de água tem escassos centímetros de altura, ficando à mercê de toda a espécie de predadores. Sobretudo do homem, que facilmente o apanha à mão nos troços de baixo caudal.
A extracção de inertes é ainda mais prejudicial a este barbo devido ao índice de turbidez que provoca na água, representando o risco de asfixia para a espécie já que ficou demonstrado que as guelras do cumba acumulam partículas que podem ditar a sua morte. Isto porque não é a água turva que impede a espécie de se alimentar nas profundezas dos rios, graças aos seus aliados barbilhos sensitivos no maxilar superioro ajudam a procurar alimento no fundos turvos. Por outro lado, esta turbidez pode ter ainda efeitos nefastos sobre os próprios avos, provocando a sua mortandade.
Mas os obstáculos do cumba não terminam por aqui. A agudizar o declínio desta espécie, que pode viver 20 anos, está ainda a poluição proveniente das descargas de efluentes industriais não tratados e da própria agricultura, devido à escorrência de pesticidas e fertilizantes.
Para preservar esta espécie endémica da Península Ibérica, da Natureza e da Biodiversidade, apelo à interdição de extracção de inertes em qualquer época do ano nos locais conhecidos como sendo áreas procuradas pelo cumba para se reproduzir.
Um dos planos aponta mesmo para a recuperação das áreas intervencionadas logo após desactivação da exploração e o reforço que impeça as extracções ilegais. Já os pegos deverão merecer atenções redobradas, perante a relevância na conservação da fauna aquática da bacia do Guadiana.
Nuno Costa, em 05/12/2011

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