Revelava a convicção profunda e inabalável de que o futebol é um desporto coletivo, no qual cada um desempenha função específica em prol de um bem comum. A dele era dar sentido ao talento individual disperso, dissolvê-lo numa identidade única e multiplicar a produção da equipa, de forma a que o resultado final fosse superior à soma das partes. Paulo Sousa, que nunca foi o soldado mais brilhante dos exército que representou, viveu uma carreira a traçar coordenadas, definir estilos e a escolher ritmos; a ser a autoridade gestora de emoções e o administrador cuja voz e comportamento de líder o conduziam à governação implacável do jogo.
Uma das suas artes mais eloquentes foi a de adaptar ao futebol o que ele tem de caça e xadrez. Nunca foi o génio do truque instantâneo e dele não se poderá dizer que nasceu para jogar futebol. Teve por isso de ver, ler e ouvir os mestres; entregar-se ao estudo antecipado das contingências para não ser apanhado desprevenido; funcionar como arquiteto de todas as equipas que representou e, por fim, ser o geómetra perfeito da geração de ouro que trouxe a Portugal ao topo do Mundo. Foi um dos melhores médios do seu tempo.
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