terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O direito à indignação

                  
Algo de novo está a acontecer por essas cidades fora, por milhares de praças. Ninguém sabe bem o que é nem onde pode ir dar.
Esta movimentação original e espontânea poderá ter mergulhado as suas raízes nas revoltas inesperadas dos povos. É contra esta farsa da democracia que muito se indignam.
A indignação não pode esgotar-se em manifestações e passeatas, por maiores e mais oportunas que sejam, na nossa sociedade contemporânea. As manifestações são indispensáveis para ajudar a dar força à indignação e a perceber que não estamos sozinhos. São um meio para estimular a coragem dos medrosos, o compromisso dos hesitantes e a esperança dos desiludidos. Essa força é sempre necessária para quem quer afrontar o sidtema, para quem quer lutar pela justiça e pela paz, para quem quer viver a solidariedade.
Mas para prosseguir o caminho é preciso saber minimamente para onde queremos ir. Porque as opções e os caminhos são infinitos, pois ainda não estão determinados.
A sensação que tem é que agora os indignados continuam indignados mas têm um sonho de ingnoram o conteúdo, agarram-se a uma utopia de que não vêm o fundoolham um futuro que se perde nas nuvens e nem sequer têm a certeza de que este esforço vale a pena, mesmo quando surgem, nunca são imediatos: os frutos são sempre lentos a amadurecer. Perante tantas violações impunes da dignidade das pessoas e dos povos, perante uma organização social sempre feita à medida de meia dúzia de euros, é difícil revitalizar a sensibilidade social e reforçar a vontade moral de lutar e de reagir. Há um caminho que precisa de ser percorrida construindo-o, pedra a pedra, grão a grão.
E só percorre de forma comprometida quem procura conhecer as necessidades dos outros e se dispõe a acolher os outros como um dom. Só se pode contruir, fomentando a outros da rsponsabilidade de todas as pessoas, a todos os níveis, envolvendo todos os cidadãos e instituições sociais.
É preciso criar novos paradigmas e estruturas políticas, económicas, financeiras, mas também culturais e éticas. Precisamos, de assinar um compromisso com a solidariedade, a fraternidade, a gratuidade, que permita soluções novas, criativas, libertadoras que alterem radicalmente estilos de vida.
Por isso, este era o tempo oportuno para que movimentos culturais e religiões nos fornecessem um ponto de apoio, com suficiente força interior para um longo caminho que nos espera.
Estamos carenciados de místicos, poetas e profetas, de gente que seja capaz de ler para lá das aparências do imediato e olhe o longo-prazo com a sabedoria dos tempos.
Para a resolução dos seus problemas internos ou para a libertação da humanidade? Para a sua preciosa doutrina desincarnada e a histórica ou para os desafios sempre novos que a história nos coloca? Estimulem com confiança e ousadia sem receios, procurando não extinguir o que de bem podera nascer.
As manifestações dos indignados são certamente um sinal dos tempos; mas são apenas um sinal. São um grito de revolta; mas apenas um grito. Se não for assumido por toda uma sociedade e por toda uma humanidade, ficaremos condenados a que tudo fique na mesma.
Nuno Costa, Lamego

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