Perante os festejos nacionais em curso, decidiu pedir aos portugueses para não embarcarem num navio do FMI, depois de ouvirem o primeiro-ministro a elogiar o fabuloso acordo que o Governo conseguiu impor aos mesmos interlocutores, ainda há uns tempos, deixaram a Grécia e a Irlanda na ruas da amargura. Compreende-se que tenha procurado alguma água na fervura no delírio que se apossou no País, depois de saber, à beira da bancarrota, foi obrigado, contra todas as promessas, a recorrer, aos maus ofícios do FMI. Por mim falo: convencido que íamos morrer da cura, sinto-me naturalmente eufórico por saber que nos limitámos a entrar em coma. Nos cuidados intensivos, em que nos encontramos, vivem-se momentos inesquecíveis de euforia. Como é que podemos não ficar eufóricos quando sabemos, por exemplo, que vamos ter uma recessão de dois por cento para os próximos anos? Ou que, para grande euforia dos trabalhadores, o número de desempregados vai desparar para 13 por cento, continuando a bater os mais improváveis recordes? Como se vê, com o País à beira do abismo, as mas notícias sucedem-se a um ritmo alucinante, criando uma onda de optimismo difícil de contrariar.
Particularmente eufóricos, como é óbvio, os desempregados, a partir de agora, passam a ter de contar com um leque esfuziante de medidas: subsídios mais baixos, diminuição dos prazos de atribuição dos mesmos, pagamento de impostos e outras regalias avulsas. Isto para não falar, evidentemente, dos reformados, dos contribuintes, dos que são levados pela ilusão do crédito fácil adquiriram casas próprias, dos que dependem do Serviço Nacional de Saúde e de outros privilegiados que andam por aí à solta, como todos aqueles que, a partir de agora, vão poder ser despedidos de forma mais barata e expedita. Mas na certeza de que tudo podia ser pior, com uma imensa euforia que assistimos ao nosso próprio colapso.
Nuno Costa, em 26/06/2011
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