sexta-feira, 6 de maio de 2011
O silêncio de Jesus
O julgamento de Jesus e o julgamento de Sócrates são os dois fundadores da nossa civilização. Curiosamente, acabaram ambos condenados à morte.
Nenhum deles pode ser considerado um processo justo, nenhum assentou numa acusação legítima ou convincente, nenhum teve um desenvolvimento linear. E, por outro lado, os dois foram processos políticos.
Ao longo dos tempos, teólogos, historiadores, juristas, todos eles escreveram e discutiram alundantemente sobre cada passo do processo que levou à crucificação de Jesus. A multidão democrática e manipulável clamando pela libertação de Barrabás em troca de Jesus. Mas a nossa relação com o processo de Jesus e continua a ser, em grande medida, a relação de quem não compreende.
Nós compreendemos por que Jesus foi levado pelo Sinédrio para ser apresentado ao procurador romano. Para que Pilatos condenasse Jesus à morte, precisava de factos que implicassem a sua autoridade, precisava de uma culpabilidade terrena e política. Por isso os acusadores levaram Jesus até Pilatos apresentando-o como o malfeitor que se autoproclamava rei dos judeus. Por isso todos os envangelistas narram a primeira pergunta do interrogatório: "És tu o rei dos Judeus?" Tu o dizes", responde Jesus.
Quando Jesus responde: "O meu reino não é neste mundo", Pilato diz: " Logo, tu és o rei." E Jesus replica: "É como dizes. Para isto vim ao mundo: para dar testemunho e verdade."
Em todas as fases do processo, Jesus praticamente não diz nada, não refuta nada. Perante da multidão e dos sacerdotes, sempre o mesmo Jesus silencioso. É como se Jesus tivesse passado ao lado do seu próprio processo. Ou devemos pensar que o silêncio de Jesus também não é deste mundo?
Infelizmente para nós, não podemos permitir aguardar o silêncio até ao fim.
Nuno Costa, em 6/5/2011
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